Ao abordarmos a educação para cegos
fez-se por necessário buscar o pioneiro no interesse por esta educação. Este
pioneiro foi Valentin Hauy (1745-1822), que depois de ter visto um grupo de cegos sendo cruelmente
ridicularizado pela sua vestimenta numa pequena apresentação em Paris, a fim de
tentar fazer a vida dos cegos mais tolerável, decidiu os ajudar a ter um
sentimento de utilidade.
Promoveu uma intensa campanha
de sensibilização pública para as necessidades dos cegos e dedicou-se à
investigação de técnicas que permitissem a educação e integração social e
profissional destes.
No mundo
Valentin Hauy fundou em Paris no ano de 1784 a
primeira escola francesa para cegos, e uma das primeiras da Europa, que se tornaria mais tarde o
Institut National des Jeunes Aveugles (Instituto Nacional para jovens cegos),
ainda existente. Preparou materiais de leitura para cegos e promoveu a
adaptação de técnicas que permitissem o trabalho de cegos numa diversidade de tarefas. Neste
instituto estudou o jovem Louis Braille nascido em Coupvray, cidade do interior
parisiense, inventor do Sistema Braille de leitura e escrita para cegos,
cabe-nos aqui abrir um parêntese para esclarecer o desenrolar do
desenvolvimento deste método.
Braille ficou cego com
aproximadamente três anos de idade. Não existe registro exato sobre o momento
em que Louis Braille ficou cego no ano de 1812.A história foi sendo
montada a partir de lembranças de diferentes pessoas; o resto temos que supor,
deduzir por nós mesmos. Mas não é difícil imaginas o curioso garoto de três
anos querendo copiar o trabalho que via seu pai fazer diariamente. Pode-se
imaginar Louis medindo um pedaço de couro, tentando alcançar uma faca, imitando
ansiosamente aqueles movimentos precisos e difíceis das habilidosas mãos de seu
pai. Mas, nas mãos gorduchas do menino, o instrumento de trabalho cortante e
afiado era simplesmente um rude e muito eficiente objeto de destruição. A ferramenta
manejada desajeitadamente, segundo parece, havia cortado seu olho.
Inicialmente ficou cego de uma vista,
mas as complicações decorrentes de inflamações resultaram na cegueira completa.
Estudando no Instituto teve a oportunidade de aprimorar seus conhecimento e
desenvolver o método de escrita e leitura Braille. Na inauguração do novo
prédio do Instituto, Braille teve a alegria de ver que o sistema foi
demonstrado publicamente e declarado aceito. Foi este o primeiro passo para a
aceitação geral. Daí, o seu uso começou a expandir-se na Europa e foi o
escolhido como o mais apropriado para aprendizagem após testes feitos com
diversos outros métodos.
Com o impulso dado pelo sistema Braille
surgiu na Europa diversas escolas para cegos, algumas notáveis, como a inglesa
St. Dunstan, que dava ênfase aos aspectos psicológicos dos alunos. Seguiu-se a
criação, nas escolas públicas, de classes especiais para crianças cegas, à
primeira das quais foi fundada nos Estados Unidos em 1900. A Perkins School, de
Boston, conseguiu um feito extraordinário com a educação primorosa de Helen
Keller, cega, surda e muda aos 19 meses de idade, que conseguiu graduação
superior e escreveu diversos livros sobre a educação de pessoas com
deficiência.
A partir daí, os livros em Braille proliferaram a
tal ponto que a National Library for The Blind, em Westminster, Inglaterra,
conta com um acervo de milhares de volumes.
No
Brasil
Em 1835
ocorreu à primeira demonstração oficial de interesse pela educação das pessoas
portadoras de deficiência visual em nosso país, quando o Conselheiro Cornélio
Ferreira França, deputado da Assembleia-Geral Legislativa,
representando a província da Bahia,
apresentou à Assembleia Geral Legislativa projeto para a criação de uma
"Cadeira de Professores de Primeiras Letras para o Ensino de Cegos e
Surdos-Mudos, nas Escolas da Corte e das Capitais das Províncias", que
infelizmente não foi aprovado, por esta tentativa ter sido realizada ao final
de seu mandato, onde acabou por não ser reeleito.
A segunda
tentativa foi iniciada por José Alvares de Azevedo, jovem cego descendente de
família abastada, o qual, ainda menino e a conselho do Dr. Maxiliano Antônio de
Lemos, amigo de um tio seu, fora mandado estudar em Paris, no Instituto
Imperial dos Jovens Cegos. Regressando da França em 1852, após ter lá
permanecido por oito anos, lançou-se à luta pela educação de seus compatriotas,
ora escrevendo artigos em jornais, ora ministrando aulas particulares dos
conhecimentos lá adquiridos.
Foi na condição
de professor que se tornou amigo do Dr. José Francisco Xavier Sigaud, francês
naturalizado brasileiro e médico da Imperial Câmara, a cuja filha cega, Adéle
Marie Louise Sigaud, veio a ensinar o sistema Braille. Entusiasmado com o
brilhantismo do jovem e compartindo seu desejo de fundar no Brasil uma escola
para pessoas cegas nos moldes da parisiense, o Dr. Sigaud apresentou-o ao Barão
de Rio Bonito, pedindo-lhe que o levasse à presença do Imperador D. Pedro II.
Este, ao vê-lo escrevendo e lendo em Braille, teria exclamado: "A cegueira
não é mais uma desgraça", palavras a que, aliás, o Dr. Sigaud aludiria em
seu discurso por ocasião da instalação do Instituto.
Vale aqui ressaltar que José Álvares de
Azevedo apesar de não ter colhido os frutos de sua conquista junto ao Dr.
Sigaud, foi Patrono da Educação dos cegos no Brasil, escreveu e
publicou, artigos sobre as possibilidades e condições de pessoas cegas poderem
estudar, sendo ele próprio um exemplo dessa realidade e tornou-se professor do
Sistema Braille para pessoas cegas, no Brasil, ensinando a ler e a escrever a
outras pessoas, tirando-as do analfabetismo. Álvarez de Azevedo foi um
verdadeiro idealista da Educação para Cegos no Brasil, e o importantíssimo
papel deste grande homem será no decorrer do trabalho citado por diversas
vezes.
Em nossa próxima postagem estaremos abordando o Instituito Benjam Constant, referência nacional e internacional nos estudos e na profissionalização, relacionados a cegueira, dentre outros. Lembrem-se de ler na ordem, não esqueçam que é um seminário.Façam seus comentários! :)
Autor: José Mauro Braz
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