quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A Educação dos Cegos no Brasil e no mundo

Ao abordarmos a educação para cegos fez-se por necessário buscar o pioneiro no interesse por esta educação. Este pioneiro foi Valentin Hauy (1745-1822), que depois de ter visto um grupo de cegos sendo cruelmente ridicularizado pela sua vestimenta numa pequena apresentação em Paris, a fim de tentar fazer a vida dos cegos mais tolerável, decidiu os ajudar a ter um sentimento de utilidade.
            Promoveu uma intensa campanha de sensibilização pública para as necessidades dos cegos e dedicou-se à investigação de técnicas que permitissem a educação e integração social e profissional destes.

No mundo
Valentin Hauy fundou em Paris no ano de 1784 a primeira escola francesa para cegos, e uma das primeiras da Europa, que se tornaria mais tarde o Institut National des Jeunes Aveugles (Instituto Nacional para jovens cegos), ainda existente. Preparou materiais de leitura para cegos e promoveu a adaptação de técnicas que permitissem o trabalho de cegos numa diversidade de tarefas. Neste instituto estudou o jovem Louis Braille nascido em Coupvray, cidade do interior parisiense, inventor do Sistema Braille de leitura e escrita para cegos, cabe-nos aqui abrir um parêntese para esclarecer o desenrolar do desenvolvimento deste método.
Braille ficou cego com aproximadamente três anos de idade. Não existe registro exato sobre o momento em que Louis Braille ficou cego no ano de 1812.A história foi sendo montada a partir de lembranças de diferentes pessoas; o resto temos que supor, deduzir por nós mesmos. Mas não é difícil imaginas o curioso garoto de três anos querendo copiar o trabalho que via seu pai fazer diariamente. Pode-se imaginar Louis medindo um pedaço de couro, tentando alcançar uma faca, imitando ansiosamente aqueles movimentos precisos e difíceis das habilidosas mãos de seu pai. Mas, nas mãos gorduchas do menino, o instrumento de trabalho cortante e afiado era simplesmente um rude e muito eficiente objeto de destruição. A ferramenta manejada desajeitadamente, segundo parece, havia cortado seu olho.
Inicialmente ficou cego de uma vista, mas as complicações decorrentes de inflamações resultaram na cegueira completa. Estudando no Instituto teve a oportunidade de aprimorar seus conhecimento e desenvolver o método de escrita e leitura Braille. Na inauguração do novo prédio do Instituto, Braille teve a alegria de ver que o sistema foi demonstrado publicamente e declarado aceito. Foi este o primeiro passo para a aceitação geral. Daí, o seu uso começou a expandir-se na Europa e foi o escolhido como o mais apropriado para aprendizagem após testes feitos com diversos outros métodos.
Com o impulso dado pelo sistema Braille surgiu na Europa diversas escolas para cegos, algumas notáveis, como a inglesa St. Dunstan, que dava ênfase aos aspectos psicológicos dos alunos. Seguiu-se a criação, nas escolas públicas, de classes especiais para crianças cegas, à primeira das quais foi fundada nos Estados Unidos em 1900. A Perkins School, de Boston, conseguiu um feito extraordinário com a educação primorosa de Helen Keller, cega, surda e muda aos 19 meses de idade, que conseguiu graduação superior e escreveu diversos livros sobre a educação de pessoas com deficiência.
A partir daí, os livros em Braille proliferaram a tal ponto que a National Library for The Blind, em Westminster, Inglaterra, conta com um acervo de milhares de volumes.

No Brasil
Em 1835 ocorreu à primeira demonstração oficial de interesse pela educação das pessoas portadoras de deficiência visual em nosso país, quando o Conselheiro Cornélio Ferreira França, deputado da Assembleia-Geral Legislativa, representando a província da Bahia, apresentou à Assembleia Geral Legislativa projeto para a criação de uma "Cadeira de Professores de Primeiras Letras para o Ensino de Cegos e Surdos-Mudos, nas Escolas da Corte e das Capitais das Províncias", que infelizmente não foi aprovado, por esta tentativa ter sido realizada ao final de seu mandato, onde acabou por não ser reeleito.
A segunda tentativa foi iniciada por José Alvares de Azevedo, jovem cego descendente de família abastada, o qual, ainda menino e a conselho do Dr. Maxiliano Antônio de Lemos, amigo de um tio seu, fora mandado estudar em Paris, no Instituto Imperial dos Jovens Cegos. Regressando da França em 1852, após ter lá permanecido por oito anos, lançou-se à luta pela educação de seus compatriotas, ora escrevendo artigos em jornais, ora ministrando aulas particulares dos conhecimentos lá adquiridos.
Foi na condição de professor que se tornou amigo do Dr. José Francisco Xavier Sigaud, francês naturalizado brasileiro e médico da Imperial Câmara, a cuja filha cega, Adéle Marie Louise Sigaud, veio a ensinar o sistema Braille. Entusiasmado com o brilhantismo do jovem e compartindo seu desejo de fundar no Brasil uma escola para pessoas cegas nos moldes da parisiense, o Dr. Sigaud apresentou-o ao Barão de Rio Bonito, pedindo-lhe que o levasse à presença do Imperador D. Pedro II. Este, ao vê-lo escrevendo e lendo em Braille, teria exclamado: "A cegueira não é mais uma desgraça", palavras a que, aliás, o Dr. Sigaud aludiria em seu discurso por ocasião da instalação do Instituto.
Vale aqui ressaltar que José Álvares de Azevedo apesar de não ter colhido os frutos de sua conquista junto ao Dr. Sigaud, foi Patrono da Educação dos cegos no Brasil, escreveu e publicou, artigos sobre as possibilidades e condições de pessoas cegas poderem estudar, sendo ele próprio um exemplo dessa realidade e tornou-se professor do Sistema Braille para pessoas cegas, no Brasil, ensinando a ler e a escrever a outras pessoas, tirando-as do analfabetismo. Álvarez de Azevedo foi um verdadeiro idealista da Educação para Cegos no Brasil, e o importantíssimo papel deste grande homem será no decorrer do trabalho citado por diversas vezes.
Em nossa próxima postagem estaremos abordando o Instituito Benjam Constant, referência nacional e internacional nos estudos e na profissionalização, relacionados a cegueira, dentre outros. Lembrem-se de ler na ordem, não esqueçam que é um seminário.
Façam seus comentários! :)

Autor: José Mauro Braz

Nenhum comentário:

Postar um comentário